O uso de compostos químicos na agricultura e na indústria está diretamente relacionado às suas estruturas moleculares e, especialmente, às funções orgânicas que esses compostos apresentam. As funções orgânicas são conjuntos específicos de átomos dentro das moléculas que determinam suas propriedades químicas, reatividade, solubilidade, toxicidade e persistência no ambiente. Ao compreender essas funções, é possível entender como os compostos atuam e quais são seus possíveis efeitos sobre o meio ambiente e a saúde humana.
Um exemplo importante é o uso de elementos químicos essenciais, como o nitrogênio, que é amplamente empregado na formulação de fertilizantes e defensivos agrícolas. A presença desse elemento em certas estruturas moleculares contribui para o aumento da produtividade das lavouras, mas também exige responsabilidade no seu uso, pois o excesso pode causar poluição do solo e da água.
A estrutura dos pesticidas influencia diretamente o seu tempo de permanência no ambiente. Um dos principais fatores que determinam a persistência de um composto químico no solo é a presença de grupos funcionais em sua molécula. Grupos como ésteres, carboxilas, haletos e fosfonatos afetam a solubilidade, a volatilidade e a capacidade de ligação aos minerais do solo, o que pode aumentar ou diminuir sua degradação.
O glifosato, um dos herbicidas mais utilizados no mundo, contém os grupos carboxila (–COOH) e fosfonato (–PO(OH)₂). Esses grupos garantem a solubilidade em água e sua interação com enzimas específicas nas plantas, inibindo processos essenciais e levando à morte da vegetação indesejada. Esse é um exemplo claro de defensivo químico sintético, cujo efeito depende diretamente da estrutura química da substância.
Em contraste, há substâncias autorizadas na agricultura orgânica, como o enxofre elementar (S₈). Trata-se de uma substância formada apenas por átomos de enxofre, sendo um elemento puro. Sua estrutura cíclica o torna eficaz no combate a fungos, como o oídio, sem os mesmos riscos de contaminação ambiental causados por compostos orgânicos sintéticos.
O DDT é um exemplo clássico de composto que ilustra os perigos dos agrotóxicos persistentes. Trata-se de um composto aromático clorado, ou seja, possui anéis aromáticos (semelhantes ao benzeno) com átomos de cloro ligados à sua estrutura. Essas características fazem com que o DDT seja lipofílico (solúvel em gordura), o que contribui para sua bioacumulação nos tecidos animais e biomagnificação na cadeia alimentar. Por essas razões, o DDT foi banido em muitos países, apesar de ter sido amplamente utilizado no passado.
Alguns inseticidas modernos, como a cipermetrina, pertencem à classe dos piretroides e apresentam a função éster, que contribui para sua eficiência biológica e seu perfil de toxicidade. Da mesma forma, herbicidas como o 2,4-D contêm o grupo ácido carboxílico, o que os classifica como compostos com atividade biológica específica sobre o crescimento vegetal.
Diversos compostos proibidos ou controlados, como o hexaclorobenzeno (HCB) e o clordano, também são abordados dentro dessa perspectiva. O HCB é classificado como um aromático clorado, enquanto o clordano é um exemplo de composto policíclico alicíclico clorado. Ambos apresentam estruturas altamente estáveis e difíceis de degradar, o que levou ao seu banimento em diversos países por serem persistentes e tóxicos ao meio ambiente e à saúde humana.
Clordano
Buscando alternativas menos poluentes, a ciência tem investido em soluções sustentáveis. Um exemplo é o uso de corantes naturais à base de antocianinas, extraídos de cascas de frutas como uva e berinjela. Esses pigmentos são solúveis em água, biodegradáveis e evitam o uso de solventes orgânicos tóxicos, sendo aplicados na indústria têxtil como uma proposta da Química Verde, que visa reduzir impactos ambientais e promover o uso de matérias-primas renováveis.
Outro exemplo de aplicação das funções orgânicas está na síntese de ésteres, compostos que possuem a função –COO– e são obtidos por reações entre ácidos carboxílicos e álcoois. Essa reação, chamada esterificação, é muito comum na produção de fragrâncias, medicamentos e até própolis, usada em produtos farmacêuticos.
A substituição de hidrogênios por átomos de cloro em alcanos, como no caso da cloração do propano, forma compostos conhecidos como haletos orgânicos, que são intermediários importantes na síntese de fármacos. Já em processos industriais alimentícios, como a hidrogenação de óleos vegetais, a adição de hidrogênio a ácidos graxos insaturados transforma-os em ácidos graxos saturados, como o ácido esteárico, usado na produção de margarinas.
Ao compreender a relação entre a estrutura molecular e as funções orgânicas dos compostos químicos, torna-se possível prever seu comportamento no ambiente, sua ação sobre organismos vivos e sua utilidade em diferentes setores. Esse conhecimento é essencial não apenas para a química pura, mas também para áreas como agricultura, saúde pública e sustentabilidade. A análise crítica do uso desses compostos é fundamental para promover práticas mais seguras, conscientes e ambientalmente responsáveis.